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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Ô abre alas, que eu quero passar...

Noite de sexta-feira, ao longe, aqui do Barro Vermelho, perto do canal do Baldo, em Natal, ouço com muita dificuldade os sons do carnaval fora de época, e vejo, de relance apenas, do fundo de minha rede armada na varanda ventilada pela brisa do atlântico, as luzes da festa da carne que transcorre freneticamente em Lagoa Nova.  Permitam-me não descrever nada de interessante para a comarca, mas, ora bolas!, hoje é sexta!

Os espasmos de luz, aliados ao meu espírito temporariamente ébrio (sim, estou, como de costume, na sexta-feira de libertação e cura pelo álcool), geram-me uma inadvertida e saudosa descarga de lembranças de um passado recente.  Sou ainda do tempo em que se brincava Carnatal com boné, mamãe-sacode e a velha mortalha batendo nos pés igual a um saco de batatas, quando os blocos passavam na Praça Pedro Velho (ou Praça Cívica, como queiram), do tempo de Banda Mel, Banda Beijo, Asa de Águia do hit "Não tem lua", enfim, do tempo do ronca e da Natal pacífica, em que as pessoas todas se conheciam pelos nomes.

Saudades deixadas de lado, pois hoje não me atrevo mais a me arriscar nas ruas (o sentimento paterno de proteção bate mais forte), o meu abadá hoje é o do estudo acompanhado de uma cerveja bem gelada e umas azeitonas (haverão de concordar comigo os boêmios:  os petiscos mais simples não são os melhores?).  Bom para mim, bom para meu cérebro, que recebe os estímulos do álcool aliados ao exercício da leitura (sempre estudei ingerindo um vinho ou uma cerveja mofada, adquiri esse hábito nos últimos anos da faculdade, com bastante êxito).

Iniciei os primeiros goles de minha vitamina de cevada acompanhado de Câmara Cascudo e seu ótimo História da Cidade do Natal.  Engraçado comparar a cidade restrita à Ribeira dos canguleiros e à Cidade Alta dos xarias com o Natal (sim, ele defende a denominação da cidade como município do Natal, e não de Natal, porque fundada durente o aniversário do Nosso Senhor Jesus Cristo) de hoje, quase irreconhecível, e que cresce em ritmo exponencial (não gosto muito disso não).  Pausa para molhar a garganta.

Cansei e passei para um pouco de literatura jurídica, opa, mais uma cerva, por favor!, e fui revisar uma sentença criminal que deverei publicar na semana que entra.  Intercalei com um pouco do livro do alemão Robert Alexy (Teoria dos Direitos Fundamentais), depois passei para o excelente 1822, do Laurentino Gomes, e terminei com um gibi do impagável Recruta Zero.  Assim mesmo, meio bagunçada minha leitura, como sempre foi, seguindo o ritmo do meu espírito.

Placar da rodada:  5 long necks e um vidro de azeitonas.  Cheguei no limite para deitar.  Terminei minha terapia, agora vou procurar minha colombina.  Será que terei meu carnaval?